Durante dois dias, a CASE (Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo), organizada pela ABStartups, promoveu uma programação de palestras simultâneas em dois palcos. Nesta terceira edição do “maior evento de startups da América Latina”, montado no Palácio de Convenções do Anhembi, na capital paulista, empreendedores puderam, além de trocar cartões, conhecer cases — de sucesso e de fracasso — de figurinhas conhecidas no ecossistema brasileiro, como Alessio Alionço (Pipefy) e Márcio Arnecke (Zendesk).
Na segunda-feira, o primeiro dia, empresas como Dropbox, Nubank e Salesforce enviaram executivos para contar histórias de bastidores e de como construíram seus processos. A ACE também promoveu a sua Jornada Empreendedora, na qual fundadores puderam entender melhor as fases em que se encontram com seus negócios e receber uma mentoria “express” para tirar dúvidas.
Já a terça-feira, último dia, trouxe os insights mais valiosos, principalmente ao redor de três temas quentes do ecossistema brasileiro: a relação de startups com grandes clientes no B2B, a promessa das Agritechs e o desafio de conseguir um investimento-anjo para o seu negócio. A seguir, os melhor trechos acerca desses temas:
VENDA PARA UM GRANDE CLIENTE, MAS NÃO SE ACOMODE
No painel “Como vender para grandes empresas”, Guilherme Massa falou dos erros cometidos por empreendedores no dia a dia da Liga Ventures. “O primeiro é sair para o pau, deixar o cliente com medo e enchê-lo de palavras bonitas como ‘Big Data’ e ‘inteligência artificial’”, disse. Segundo Massa, isso prejudica a relação de venda e gera desconfiança. Além disso, é essencial reconhecer o tamanho da sua startup para não deixar de entregar uma solução por falta de estrutura. “Aí o cliente pode pensar que o você faz é simples e tenta te esmagar, pois tem mais recursos”.
Como a própria plateia sinalizou, um outro desafio para empreendedores que acabaram de conseguir seu primeiro grande cliente é não se acomodar. Ou seja, achar que o negócio está garantido depois da primeira venda, não prospectar mais e estagnar, não conseguir escalar. Para isso, Massa insistiu que há um caminho a ser seguido: mostrar o seu diferencial, analisar onde a sua solução impacta a grande empresa, provar para o futuro seu cliente quais são os atalhos que você cria para ele, conhecer o seu orçamento e não tentar tirar proveito. Guilherme arrematou:
“Na nova economia, tudo tem que ser ganha-ganha. Não é achar que a sua empresa é sexy, tem potencial revolucionário, pegar um cheque gordo e pronto”
No painel seguinte, o encontro de Heygler de Paula, COO do AgriHub (programa de inovação tecnológica para agricultura e pecuária) e Almir Araújo, gerente regional de Marketing da BASF, deixou um apelo aos empreendedores da CASE: olhem com carinho para o mercado agrícola.
STARTUPS, O MERCADO AGRÍCOLA PRECISA DE VOCÊS
Heygler chegou a trazer um produtor rural do Mato Grosso do Sul para contar as suas principais demandas e reforçou: “Custo alto e baixa produtividade é sempre um problema. Muitos processos tecnológicos que eles precisam já existem, mas o que falta é essa ponte para o agronegócio, e pensar na realidade do campo”. Para entender as necessidades de quem trabalha no setor, ele diz não acreditar em pitch, mas no diálogo direto com essas pessoas.
Almir, que apresentou o programa de aceleração da BASF, o Agrosmart, também falou dos desafios a serem superados por startups. “As Agritechs representam a oportunidades dos profissionais de TI ajudarem a agricultura. Ajudar a produzir mais com a mesma quantidade de terra, fazer previsão do clima, promover a conexão da cadeia agrícola, a saúde do plantio etc. Quem usa tecnologia no campo quer simplicidade”, disse.
PROCURAR POR INVESTIMENTO-ANJO PODE SER MAIS PRODUTIVO
Presidente do Gávea Angels, Camila Farani comandou um papo com Amure Pinho e Douglas Almeida sobre investimento-anjo. Donos de histórias e carreiras bem diferentes, os empreendedores contaram como correram atrás de investimento com amigos, conhecidos e familiares no início, e depois expandiram sua rede de contatos.
Amure, que é CEO e fundador da Blogo, aplicativo de publicação para blogueiros, contou que seu maior erro foi ter captado captado pouco na sua primeira rodada de investimento-anjo. “Chegou uma hora em que eu entendi que eu só ia conseguir executar com aquele dinheiro, mas não tinha mais um real para a largada”, disse. Isso já não foi problema para Douglas, cofundador da Stayfilm, um produtor automático de filmes online.
Para viabilizar seu projeto com seus sócios, ele reuniu 57 pessoas em uma sabatina para explicar a proposta da plataforma. A estratégia deu certo a ponto da startup ser considerada dona de um dos maiores investimentos-anjo do Brasil – hoje são 63 investidores. Ele fala a respeito:
“Todo mundo conhece alguém que pode investir. O que você tem é que criar oportunidade para direcionar o dinheiro que está aí”
Por isso, na opinião dele, não adianta dizer que é difícil captar antes de encontrar diversos investidores em potencial. Amure completou: “Tem que fazer um pitch bonito e aprender a ir atrás de quem você menos faz questão antes. Para, quando você chegar no cara que é sua prioridade, você já estar craque na abordagem”.
No painel, Camila também perguntou sobre as maiores dificuldades de se conseguir investimento-anjo no Brasil, em especial. “É o cara que desmotiva o empreendedor, que dá aquele baile contratual (porque tem aquela desconfiança do brasileiro), ou que pega uma fatia muito grande do negócio, tem aversão ao risco e quer ver retorno rápido”, respondeu Amure.
E NÃO É QUE TEVE ATÉ FESTA?
A CASE encerrou as atividades com o Startup Awards, prêmio conduzido pela própria ABStartups, que elegeu os melhores em diversas categorias, de acordo com uma votação aberta ao público. Veja o resultado:
Melhor comunidade de Startups: Startup SC
Investidor-anjo: Camila Farani
Aceleradora: Inovativa
Menção honrosa: Pareto Group
Startup do ano: Méliuz
Coworking: Google Campus SP
Equipe fundadora: Méliuz
Fundo de investimento: Monashees
Melhor universidade para empreendedores: UFSC
Assessoria de imprensa: Dialetto
Melhor reportagem: Revista Exame
Melhor mentor: Rafael Assunção
Assessoria jurídica: Natalie Witte
Ano que vem tem mais. Até a CASE 2017!
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