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Flowmakers: como um ex-empreendedor falido e frustrado com a escola hoje forma jovens para startups

Luisa Migueres - 29 nov 2016 A equipe do Flowmakers em sua primeira casa em São Paulo. Rafael Ucha (o primeiro à esquerda) é um idealizadores dos ciclos de aprendizado
A equipe do Flowmakers em sua primeira casa em São Paulo. Rafael Ucha (o primeiro à esq.) é um idealizadores dos ciclos de aprendizado.
Luisa Migueres - 29 nov 2016
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Não é um curso de formação de empreendedores, nem um intensivão para startups. Muito menos uma consultoria de RH. Afinal, o que é o Flowmakers? “Uma jornada de aprendizado na prática, ciclos de desenvolvimento humano, descolarização e protagonismo”, diz Rafael Ucha, um dos idealizadores do projeto, que ganhou fôlego em 2016 e abriu recentemente seu primeiro escritório físico, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. A definição do empreendedor traz termos que estão correndo soltos ultimamente, mas na verdade a proposta do Flowmakers só fica clara de verdade quando ele conta o que acontece, de verdade, no dia a dia de quem passa por lá.

Apesar de ser difícil imaginá-lo de outra maneira, Rafael, hoje com 29 anos, nem sempre cultivou sua barba e cabelos longos ou questionou a eficácia do ensino tradicional. Ele frequentou um colégio de elite em São Paulo, formou-se em Administração na FEA-USP, fez mestrado na França e trabalhou dois anos na Unilever. Na teoria, sua carreira no mundo corporativo estava só começando. Mas, na verdade, teve vida curta. Quando decidiu empreender pela primeira vez, em 2011, ele lançou um site de compras coletivas direcionado ao público masculino com alguns amigos, o Homem Social. Foi um fracasso:

“Eu tinha anos de estudo, faculdade, cursos de extensão. Mas, na hora de empreender, aquilto tudo não serviu para nada”

Ao mesmo tempo em que a experiência foi frustrante – ele deve dinheiro para a família até hoje –, também serviu como disparador de uma descoberta. Em um ano com a mão na massa, tendo que se virar, ele aprendeu o que é o ambiente empreendedor, quem são pessoas que circulam nele, como funciona o ecossistema, quais são as práticas recomendadas etc. “Aí eu pensei ‘do que serve esse sistema formal?’”, conta. Este foi o clique, o início do seu interesse por novos modelos educacionais.

ENTENDENDO A DESCOLARIZAÇÃO, BUSCANDO CAMINHOS

“Conheci a Khan Academy e, ali, vi uma oportunidade de mudar a educação. Passei a me interessar muito por descolarização, porque era muito do que eu estava vivendo”, diz Rafael, que cita o livro Volta ao mundo em 13 escolas (de André Gravatá, Carla Maiyumi, Camila Piza e Eduardo Shimahara) como um grande responsável por ajudá-lo a entender a descolarização e descobrir que existem — e há muitas — novas possibilidades de continuar estudando fora da escola. Mas a euforia ainda não vinha acompanhada de um plano para ganhar dinheiro.

O programa, que dura cinco meses, tem atividades voltadas ao lado "flow", de relações humanas, e "maker", de ferramentas práticas

O início dos ciclos da Flowmakers acontece em um sítio. É bacana, mas também um desafio logístico.

“Eu não queria voltar pro mundo corporativo e me achava um fracasso como empreendedor. Estava naquele limbo”, conta. Mesmo assim, ele decidiu apostar em desenvolvimento de pessoas e ver no que dava. Às cegas mesmo. E não demorou para que as coisas começassem a acontecer. Durante um curso de Design Thinking, Rafael conheceu João Vitor Caires, um dos sócios do ImpactHub. “Um dia dei carona pra ele, fomos conversando sobre os projetos que eu estava envolvido e ele me convidou para fazer a gestão da Hub Escola”, lembra. O convite (aceito na hora) foi o passaporte para a sua primeira atividade remunerada na área e trouxe uma “explosão”, como ele próprio descreve, de informações.

“Lá, me liguei que empreendedorismo não é metodologia, não tem passo a passo. É comportamento, é visão de mundo, muito mais soft skills do que o canvas”

Para quem achava que pensar em desenvolvimento humano era coisa de abraçador de árvore, a mudança de visão aconteceu em tempo recorde. Não podia ser diferente: além de organizar os cursos e workshops da Hub Escola, ele também era um dos mais ativos participantes. Em um ano e meio, Rafael não só incorporou o espírito do ImpactHub como virou disseminador dele. “Ver o que é uma comunidade de verdade, como o cuidado com as pessoas é importante, a conexão genuína, me transformou muito. Eu era fechado, tímido, introvertido, mas ali me dei a licença de me abrir mais e ser de outro jeito”, conta. Coroando esse processo, voltou a confiança de empreender.

A ideia do que ele gostaria que fosse o Flowmakers foi tomando forma rapidamente. Rafael bolou o modelo de negócio, o formato (de facilitação, workshops e mentorias) e o tipo de conteúdo que poderia integrar a experiência. Empolgado, pediu demissão e começou a desenhar o negócio. Os primeiros “convencidos” foram João Caires e Leonardo Loureiro (que era membro do ImpactHub), mesmo que não tivessem entendido de cara a proposta. “Era muito abstrato. Mas participei de um processo de auto-aceleração e consegui dar forma, criar uma apresentação. Aí eles toparam e foi uma loucura”, diz Rafael.

O trio investiu 2 mil reais comprar domínio online, hospedagem, tema de WordPress etc. Mais 200 reais em mídia de Facebook, e pronto. O site foi para o ar em quatro dias, o logotipo estava pronto no PowerPoint mesmo, era hora de ir pra cima dos clientes. Quando dois toparam, o jeito foi agilizar. “O salário da equipe era uma mixaria, todo mundo fazia projetos paralelos para se manter”, conta.

O QUE SIGNIFICA SER UM FLOWMAKER

Para participar de um ciclo do Flowmakers é preciso deixar alguns preconceitos para trás, estar aberto a troca de experiências e conseguir levar para a sua atividade profissional o que descobre lá. Agora que já consegue reconhecer alguns padrões nas experiências que promove, Rafael percebe uma curva no comportamento dos flowmakers. “Rola uma euforia inicial, depois um choque de realidade, e por fim eu vejo um crescimento mais estável dessa empolgação, mais consciente”, conta. Isso é resultado direto da proposta da empresa, como ele diz:

“A gente busca os dois lados. O maker, de ter resultado, e do flow, de se importar com as pessoas. Não é nem ser bitolado e ter insônia, nem abraçar árvore”

Os ciclos duram cinco meses, e sempre começam com uma imersão de três dias em um sítio. Nenhum deles tem uma programação fechada, e cada mês as turmas se reúnem para discutir o que tem funcionado e o que é preciso desenvolver ainda. Nesse pacote entram workshops, palestras e atividades de Design Thinking e Lean Startup até Mindfulness e Comunicação Não-Violenta. “Grande parte de processo de descolarização está nessa construção conjunta, dessas necessidades práticas do dia a dia”, diz Rafael.

Nos workshops, há atividades voltadas ao lado "flow", de relações humanas, e ao "maker", de ferramentas práticas.

Nos workshops, há atividades voltadas ao lado “flow”, de relações humanas, e ao lado “maker”, de ferramentas práticas.

Por ter o foco nas habilidades e não no conteúdo, o fundador conta que não há muitos conflitos de faixas etárias ou ocupações nos grupos. Um indicativo de sucesso que ele cita é a taxa de desistência de participantes, de menos de 5%.

VIVER DE DESCOLARIZAÇÃO NÃO É FÁCIL

Um programa desses custa caro, não tem jeito. É por isso que, pensando em ser acessível sem explorar a sua equipe, os sócios optaram por duas formas de ganhar dinheiro. A primeira é ter empresas como clientes, vendendo a elas um serviço de recrutamento e desenvolvimento de futuros funcionários, ou de quem já trabalha lá. Nesse formato, a empresa financia o programa e não há custo para o participante. O valor dessa chamada bolsa auxílio varia de acordo com a carga horária do curso: 500 reais por mês para 25 horas semanais e 1 mil reais mês para 40 horas. Rafael diz que as empresas contratam 70% das pessoas que passaram pelo curso.

A segunda forma de sustentar o negócio segue o modelo tradicional: quem quer participar do ciclo pode pagar individualmente por ele. O único pré requisito é estar trabalhando. Daniel fala dessa condição: “O local de trabalho prático complementa o programa. Sem ele, fica tudo muito etéreo, não tem aplicação e não é proveitoso”.

A maioria das empresas parceiras do Flowmakers são do Sistema B, ou ligadas a um propósito maior do que ser um negócio bilionário, por exemplo. Além do ImpactHub, há a Cause, Artemisia, Aldeia, Catarse, Worldpackers, House Of Learning, Giral e outras tantas. “Alguns estilos de cliente a gente não atende, porque a gente não existe um alinhamento do que eles estão esperando com o que a gente vai conseguir entregar”, diz Rafael.

Apesar desse amor à primeira vista com muitas startups ligadas à projetos sociais e colaboração, viver do Flowmakers não é mole. O maior desafio é a venda, segundo o fundador: “As pessoas estão acostumadas a tirar dinheiro do bolso para fazer uma formação que possam colocar no currículo, e nós nem sequer damos certificado”. Além disso, ele prossegue, a organização às vezes tem medo de “estragarmos a brincadeira deles”.

Ele lista, entre os desafios, a logística, que lhe exige um suor tremendo, afinal, são quatro workshops por semana com temáticas diferentes. Em 2015 aconteceram dois ciclos com um total de 24 makers e mais de 13 startups parceiras. O primeiro semestre deste ano inaugurou duas turmas simultâneas, ao todo são 29 participantes e 15 startups. Para Rafael, o ano é positivo também porque agora a empresa tem um lugar para chamar de seu. “Ainda não estamos confortáveis, a equipe ainda não ganha bem, mas estamos conseguindo melhorar a cada semestre”, diz. E segue o flow.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Flowmakers
  • O que faz: Ciclos de aprendizados para empresas e participantes avulsos
  • Sócio(s): Rafael Ucha, João Vitor Caires, Thaiane Moregola e Leonardo Loureiro
  • Funcionários: 15
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2014
  • Investimento inicial: R$ 2.200
  • Faturamento: R$ 90.000 (2015)
  • Contato: [email protected]
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