Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
EMPRESA LÍQUIDA
O que acham que é: Conceito do sociólogo Zygmunt Bauman aplicado ao universo empresarial.
O que realmente é: Empresa Líquida é um conceito de gestão que define organizações com capacidade de se adequar, de forma rápida e competitiva, a novos e até bruscos contextos de negócio, sejam eles advindos de mudanças políticas, econômicas, sociais ou tecnológicas. (
Segundo Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper, essas organizações diferem das tradicionais, que são inertes, duras, pesadas e letárgicas. “Empresa Líquida não é sinônimo de negócio com alto nível de liquidez e com elevado estoque de caixa em relação às contas a pagar mas, sim, de liquidez suficiente para bancar os ajustes visionados”, afirma.
Claudio Carvajal, coordenador dos cursos de administração e gestão de TI da FIAP, diz que Empresa Líquida é um termo utilizado para designar empresas que não investem em ativos fixos, procurando desenvolver uma estrutura mais enxuta, barata e flexível: “É um conceito novo, que surge com a expansão da digitalização dos serviços e pode ser exemplificado com Amazon, Uber, Airbnb etc. Mas empresas de outros setores estão começando a adotá-lo, especialmente para reduzir custos e ganhar mais agilidade em sua gestão”.
Estratégias descritas em outros Verbetes Draft, como Lean Startup (metodologia para criar negócios enxutos) e Estratégia do Oceano Azul (busca de mercados ainda não explorados), são comumente aplicadas às Empresas Líquidas, já que se utilizam da “lógica líquida” em suas próprias definições.
Quem inventou: Não há um inventor do termo “Empresa Líquida” (o sociólogo Zygmunt Bauman, é bom dizer, lançou seu icônico livro Modernidade Líquida em 2000). Especificamente sobre “Empresa Líquida”, Nakagawa diz que o aumento da velocidade e o teor das mudanças que ocorrem atualmente tornam o conceito cada vez mais mandatório para negócios. “Não há, porém, ainda nenhum ‘pai’ do termo”, afirma ele.
Quando foi inventado: Não há uma data mas é um conceito contemporâneo da Economia Criativa, criada entre as décadas de 1980 e 1990.
Para que serve: Nakagawa diz que o conceito de Empresa Líquida é importante como metáfora de desempenho estratégico. “Na medida em que os stakeholders, principalmente os funcionários, a entendem como tal, ela se torna parâmetro para a definição de estratégias futuras, com questionamento constante da evolução do negócio”. Ele afirma, ainda, que o conceito serve para a vigilância das tendências que vão concretizar (e que podem ser ameaças ou oportunidades para o negócio) e como álibi para mudanças contínuas, além de possibilitar a vanguarda competitiva.
Quem usa: Geralmente, empresas criativas e aquelas comparativamente menores do que as organizações tradicionais, formadas apenas pelos sócios (ou com poucos funcionários). Carvajal considera que qualquer empresa pode colocar em seu plano estratégico a proposta de se tornar “mais líquida”. Ele diz: “Assim como downsizing, reengenharia e outras ferramentas de gestão se popularizaram em décadas anteriores. A busca pela digitalização em todos os setores também deve favorecer a cultura organizacional de empresas mais líquidas. Instituições públicas, privadas e o terceiro setor são potenciais interessados nesse conceito de gestão”.
Na prática, porém, são as startups que mais abraçam a Empresa Líquida. Nakagawa conta que, ainda assim, há grandes empresas que se tornam famosas por se tornarem “mais líquidas”. “É o que aconteceu no passado com a IBM, diante de competidores mais ágeis como Microsoft e Apple, e o que ocorre agora com a GE, que está implementando Lean Startup em larga escala”, diz. E prossegue: “A boa novidade é que há empresas de grande porte que, mesmo sendo gigantes, conseguem ser líquidas e se ajustar rapidamente às mudanças, casos de Google, Salesforce e Netflix”.
Efeitos colaterais: “Quando a aplicação do conceito de Empresa Líquida é ineficiente, pode gerar miopia mercadológica e perda de foco estratégico, levando a empresa a mercados errados, à não otimização do ganho financeiro, por não aproveitar todo o ciclo de vida de um produto, e ao stress organizacional diante de mudanças constantes que talvez não façam sentido ou não tragam os resultados esperados”, diz Nakagawa.
Quem é contra: O conceito enfrenta grande resistência em organizações altamente burocratizadas e hierarquizadas, que dominam grandes participações de mercado ou focam em produtos que vendem bem e com alta margem de lucros, afirma Nakagawa. “Esse contexto pode incluir entidades governamentais, grandes empresas de setores tradicionais ou commoditizados, negócios em posição monopolista”, diz.
Para saber mais:
1) Leia, em O Executivo Sincero, Para sobreviver na nova economia. O texto fala sobre o novo paradigma criado pela nova economia e contextualiza Empresas Líquidas, explicando o termo e introduzindo um outro: Relações Efêmeras.
2) Leia, no Estadão, A era das empresas líquidas e suas muitas oportunidades (e ameaças). Marcelo Nakagawa lista pontos que ainda impedem o conceito de se disseminar e cita exemplos de sucesso.