Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
MÉTODO AQUÁRIO
O que acham que é: Método que expõe negativamente características físicas das pessoas.
O que realmente é: Método Aquário (ou Fishbowl Method) é uma metodologia de conversa em grupo, plural e democrática, na qual as pessoas estão, necessariamente, dispostas de forma concêntrica. Esta breve introdução não é à toa: a proposta do Aquário está intrinsecamente ligada a seu formato.
Com cadeiras (almofadas, pufes etc.) desenha-se um círculo de cinco a oito lugares — é este o “aquário” — e, à sua volta, formam-se outros círculos concêntricos (o número de lugares é flexível). Ainda sobre a nomenclatura: em inglês, a palavra fishbowl refere-se especificamente a aquários redondos (pense naqueles pequenos, que se tem em casa), por isso o termo.
Um facilitador formula o tema da vez (pertinente àquele grupo) juntamente com os demais participantes e a conversa tem início no círculo interno — apenas quem se senta ali tem poder de fala, aos demais cabe somente escutar. Aqui, necessariamente, uma cadeira precisa estar sempre vazia, para que pessoas do círculo externo também possam vir até ela, sentar e falar. Quando isso acontece, alguém do círculo interior se levanta, deixando novamente um espaço vago. Assim, a ideia é que todos do grupo participem da conversa, ativa ou passivamente.
Segundo Vinicius de Paula Machado, sócio da Carioteca, cofundador da Goma (um expoente do empreendedorismo em rede no país) e facilitador de processos colaborativos, o silêncio dos que preferem apenas ouvir também faz parte da conversa. “Não falar é visto também como uma forma ativa de participação. Mas quanto mais participantes entrarem no círculo central do Aquário, mais rico será”, ele diz.
Em relação à duração, o Aquário pode ter um tempo pré-determinado ou se deixar levar pela fluidez da conversa, de acordo com a dinâmica do grupo. Felipe Faillace Salazar, cofundador, articulador e facilitador do Trama, um coletivo de colaboração de grupos criativos, conta que define Aquário como uma ferramenta democrática de diálogo participativo. “O verdadeiro benefício do Aquário são as diferentes vozes que contribuem para enriquecer uma discussão ou debate. A possibilidade de poder se expressar cria uma força muito forte na fala e isso torna o diálogo mais profundo.”
Aqui na seção Verbete Draft já falamos de quatro outras metodologias de conversa: Art of Hosting, Dragon Dreaming, Open Space Technology e Pro Action Café. Embora cada uma tenha suas particularidades (como formato e condução), o ponto comum é a abordagem plural, na qual todos do grupo participam e têm a mesma importância. Em nenhuma delas há uma pessoa detentora do conhecimento porque, em essência, ele está em todos.
Quem inventou: Salazar diz que o método foi criado no mesmo âmbito de outras metodologias ou dinâmicas de participação plural de diálogo. “Já o termo Aquário foi popularizado pelo australiano Harrison Owen em seu livro Tecnologia do Espaço Aberto, Manual do Usuário.
Quando foi inventado: O livro é de 1983.
Para que serve: Objetivamente, é possível citar pelo menos oito contextos de aplicação do Aquário: compartilhamento de informações e estreitamento de vínculos de confiança; transparência em processos de decisão; melhora da compreensão de assuntos complexos; alternativa a debates tradicionais; substituição de painéis de discussão; incentivo à participação dinâmica; melhor abordagem de temas polêmicos e como forma de evitar longas apresentações.
Quem usa: Machado diz que utilizam o Aquário quaisquer redes, organizações ou iniciativas que queiram aprimorar sua capacidade de diálogo, nivelar o conhecimento e promover outros formatos de interação. “E também estimular a transparência e promover mais cooperação entre stakeholders”, diz.
Facilitadores processuais, gestores organizacionais, designers de experiências e coaches, segundo Salazar, também utilizam bastante a metodologia. “Geralmente são profissionais voltados a entender e interpretar o que é intangível uma organização como relações, desejos, sonhos, vontades, desconfortos etc.”
Efeitos colaterais: Risco de cansaço ou exaustão do grupo quando há falas individuais muito longas; risco de confusão ou inocuidade quando há distanciamento do tema.
De acordo com Salazar, a mudança de direção pode ser algo positivo e mostrar a evolução do diálogo, mas se a conversa sai do propósito, perde sua força e acaba se tornando uma confusão para todos envolvidos: “É função do facilitador reorientar a conversa quando isso acontece”.
Quem é contra: Machado conta que, geralmente, empresas, instituições, iniciativas ou pessoas com cultura de feedbacks menos maduras. “Elas apresentam resistência à utilização desse tipo de metodologia pois têm medo de “climão”, de pessoas compartilhando seus sentimentos (não tão positivos) sobre determinada estrutura, processo ou desafio.”
Para saber mais:
1) Assista, no YouTube, à How to do a Fishbowl. O vídeo tem pouco mais de dois minutos e é voltado para estudantes mas dá uma boa ideia do método.
2) Este outro vídeo, How to run a great Fishbowl discussion, também é útil para entender a dinâmica do método.