Um dos primeiros posts do Startupi, site de notícias sobre o mercado brasileiro de startups, é de 10 de dezembro de 2008. No texto, o editor Alexandre Fugita, então responsável pelo site, descreveu assim o coquetel de lançamento do projeto: “Cerca de 50 pessoas vieram nos prestigiar e a impressão que tive tanto de comentários após o anúncio quanto de mensagens no Twitter é que a iniciativa do Startupi é uma ótima ideia”.
Quem lembra como se fosse ontem dessas passagens – tanto da festa quanto dos primeiros textos publicados no site – é o jornalista Diego Remus, 35, que assumiu o projeto poucos meses depois, quando o site ficou sem redator. “Na época, eu trabalhava numa startup chamada Amanaiê, que desenvolvia aplicativos para redes sociais. Um dos fundadores da Amanaiê era o mesmo do Startupi, o Michael Nicklas, e, por isso, ambas as empresas funcionavam no mesmo espaço de coworking. Então, acompanhei a história do site desde o começo”, conta ele.
Gilberto Alves Leal, designer de produtos digitais e empreendedor digital, é outro fundador da Amanaiê e também co-fundador do Startupi. Foi ele quem desenvolveu o conceito, o logotipo, e fez gestão do site neste início. Gilberto, por sinal, contratou Diego na Amanaiê. Ele manteve-se no negócio até a entrada de Bob Wollheim (que contaremos adiante). Naquele momento, era hora de desbravar um território inexplorado.
Para Diego, os primeiros posts mostram que, até então, não se sabia quase nada sobre o mercado brasileiro de startups. “Os startupeiros brasileiros não eram vistos como um grupo, não tinham uma identidade comum, mal apareciam na imprensa. O Startupi surgiu para mudar isso”, diz.
Diego conta que o empreendedor americano Michael Nicklas, hoje sócio do fundo de investimento Valor Capital Group, teve como inspiração para o Startupi o Business Insider, site de notícias sobre negócios de rápido crescimento lançado em 2007, nos EUA, “para contar o que acontecia nas indústrias de alta tecnologia de Nova York”. Antes de chegar no Brasil e investir em ao menos três startups (Startupi, Amanaie, Compra3), Michael tinha empresas de software em Nova York, gerenciava tecnologia para empresas como Viacom e fazia investimentos-anjo.
COMO É CRIAR UM SITE DO ZERO, UMA COMUNIDADE DO ZERO
O trabalho de Diego quando ele se juntou ao site, em julho de 2009, passou a ser encontrar startups brasileiras e escrever sobre elas. “Fomos só eu e o Michael a equipe Startupi por muito tempo. Fazíamos um post por dia, com dificuldade, e ainda traduzíamos para o inglês, porque queríamos ter um site bilíngue. A boa notícia era que, quanto mais negócios desse tipo procurávamos, mais encontrávamos”, diz.
Enquanto ele e Michael delimitavam que tipos de empresas chamariam de startups, alguns empreendedores passavam a entender que o que eles tinham fundado era, na verdade, uma startup. “Os critérios eram trabalhar com tecnologia e ter criatividade para a inovação”, afirma Diego. Eles nunca quiseram estipular um recorte como o faturamento, usado pela maior parte das revistas de negócios.
Quando o Startupi nasceu, lembra Diego, existiam no país pelo menos dois espaços de coworking, a aceleradora Aceleradora (que, única no país até então, tinha este nome autoexplicativo), a instituição de apoio ao empreendedorismo Endeavor e o fundo de capital de risco Monashees. Além disso, os empreendedores Marco Gomes, da rede de publicidade online boo-box, e Gustavo Caetano, da plataforma de vídeos online Samba Tech, já faziam parte da cena brasileira de startups. “O que estava faltando era algo que unisse a todos”, diz.
No final de 2009, Diego — que a esta altura, além de editor chefe era também diretor e sócio do Startupi — passou a organizar eventos em nome do site. A ideia surgiu quando estava para acontecer a Semana Global do Empreendedorismo no Brasil. Ele sugeriu à Endeavor, à Microsoft e ao coworking The Hub (hoje Impact Hub), que todos se juntassem ao Startupi para planejar um grande evento. Aconteceu. E Diego se deu conta de algo importante para qualquer negócio:
“Percebi que poderíamos aproveitar a marca para fazer encontros de networking, criar uma comunidade, aproveitar que a galera de startups já estava mais empoderada”
A partir de então, o Startupi passou a participar de Feiras do Empreendedor Sebrae em diversos estados do país e de conferências da Endeavor, entre outros eventos.
NOVOS PARCEIROS, NOVAS PERSPECTIVAS
Foi num fórum de empreendedorismo na Avenida Paulista, em São Paulo, que Diego conheceu o investidor Bob Wollheim, 54, fundador do festival de cultura de internet youPIX e atual head of digital no Grupo ABC, de publicidade e marketing. “O Diego estava fazendo uma mistura de palestra com performance, fiquei admirando. Depois, conversamos e passamos a nos encontrar num monte de eventos, o que acabou culminando numa parceria”, conta Bob.
No começo de 2011, Bob tornou-se sócio do Startupi (o site, no entanto, não divulga os percentuais de participação dos sócios).
Neste momento, Gilberto deixou o negócio, que manteve os três sócios (Michael, Diego e Bob). O novo integrante da turma fala do que o atraiu: “O site tinha potencial para ser um player importante do ecossistema brasileiro de startups, produzir conteúdo, conectar negócios e trabalhar com educação e eventos, como faz o site americano de notícias sobre tecnologia TechCrunch”.
Bob, assim como Diego, sempre viu o projeto como causa: “O Startupi é muito mais uma missão do que um grande negócio. Missão de ser um canal, uma base importante para o segmento de startups. Mas não significa que seja uma ONG”.
Depois da entrada de Bob, a empresa foi convidada para participar de diversos encontros de empreendedorismo no exterior e até chegou a preparar um evento de networking para o fundo americano de venture capital 500 Startups, de Bedy Yang, no Brasil.
No final de 2011, os textos do Startupi passaram a ser publicados no portal iG e os dois sites, em parceria, organizaram uma competição de startups, que teve como vencedora a plataforma de crowdfunding Benfeitoria.
No ano seguinte, surgiu a Startupi Con, série de debates com empreendedores e investidores brasileiros durante o evento de tecnologia TechCrunch Disrupt SF, que reúne mais de 5 000 pessoas anualmente em São Francisco, nos Estados Unidos. “Tínhamos o patrocínio de 15 companhias e juntamos mais de 100 pessoas para assistir às palestras, entre brasileiros e estrangeiros”, conta Diego. “Foi incrível.”
No final de um desses debates, um investidor perguntou à Diego por que o Startupi não fazia como as startups que ali se apresentaram e pedia um investimento. Ele levou o conselho a sério e foi à luta. Em janeiro de 2012, depois de muita negociação, o site recebeu um aporte de 600 mil reais, numa rodada que incluiu 20 participantes, entre investidores-anjo, empresas e fundos. Alguns dos mais conhecidos são a aceleradora ACE, antiga Aceleratech, e o fundo de venture capital Redpoint e.ventures.
VEM O SUCESSO E, DE REPENTE, O NEGÓCIO É VENDIDO
Com o dinheiro que entrou, foram contratados dois novos funcionários, um para a redação e outro para o marketing. Diego lembra dessa fase: “Era quase inacreditável que estivéssemos crescendo, pois muitas empresas de jornalismo estavam quebrando, infelizmente”. Nessa época, o Startupi também passou a organizar cursos de empreendedorismo e elaborar materiais patrocinados, como um glossário de termos do universo das startups.
No começo de 2015, o Startupi foi vendido para a agência de eventos Beats Brasil, que organiza a edição brasileira da conferência de negócios de tecnologia e competição de startups DEMO, criada pelo grupo de mídia IDG nos Estados Unidos nos anos 90. O valor da transação não foi revelado. Para Diego, foi uma mudança brusca:
“Minha identidade se confundia com a do Startupi. Depois da venda, acabei colaborando menos do que gostaria com o site, mas isso me ajudou a ‘let it go’”
E ele saiu do Startupi. Atualmente, é desenvolvedor de negócios na empresa canadense de soluções de reservas de viagens executivas Biz Airlines, em Toronto.
O propósito do comprador do Startupi, o empreendedor Geraldo Santos, 53, sócio da Beats Brasil na época, era complementar a atuação da conferência de negócios de tecnologia e competição de startups DEMO no Brasil. Ele fala dessa estratégia: “Com a conferência nacional, reuníamos empreendedores e investidores uma vez por ano. Faltava um veículo de mídia que fizesse com que as discussões geradas no evento continuassem acontecendo durante todos os outros 364 dias”.
COM O NOVO DONO, UM NOVO MODELO
Na avaliação de Geraldo, o site já era superconhecido, inclusive por quem não era do setor, mas precisava de um novo modelo de negócio. “Para enfrentar grandes concorrentes como o site da revista PEGN e o portal Exame.com, não dava para depender apenas da venda de banners. E mesmo essa venda era limitada por questões técnicas”, diz. Uma das primeiras mudanças empreendidas, inclusive, foi no layout do Startupi, que antes não permitia a publicação de publieditoriais nem de banners nas páginas internas e agora permite.
A empresa passou por uma reestruturação ao longo dos últimos 15 meses e, hoje, seus três pilares são educação, eventos e conteúdo (especialmente em vídeo). Para isso, foram criadas três submarcas: Startupi Edu, Startupi Match e Startupi Play, respectivamente.
No que diz respeito à educação, a empresa já formou dez turmas de investidores-anjo e três de empreendedores que aprenderam a buscar investimento. Alguns dos professores são investidores como Fábio Póvoa, Cassio Spina e Camila Farani. Nos próximos meses, também devem ser lançados um curso de internacionalização de startups e um workshop de criação e implementação de programas de inovação aberta com startups em grandes companhias, além de treinamentos online.
Na área de conteúdo, o Startupi deve passar a transmitir vídeos ao vivo, como entrevistas e coberturas de eventos do setor. Geraldo conta: “A nova área de conteúdo vai bem. Em outubro atingiu o break-even, ou seja, passou a ter lucro”. Já no âmbito dos eventos, em 2017, o Startupi deve organizar encontros para gerar negócios entre startups, investidores e grandes empresas.
Também no ano que vem, Geraldo planeja abrir cinco filiais do Startupi fora de São Paulo – uma delas, possivelmente, em Florianópolis. “Assim, podemos ter correspondentes interestaduais para o jornalismo e organizar cursos e eventos para investidores e empreendedores locais”, diz.
O futuro do Startupi, para Geraldo, Bob e Diego, unanimemente, parece promissor. “O site gerou bons frutos nas minhas mãos e nas do Diego. Não deve ser diferente com o Geraldo, que está criando muita coisa bacana”, afirma Bob. A comunidade empreendedora agradece.
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